quinta-feira, 5 de março de 2009

Making Of

Ao longo dos meses, coletamos algumas fotos e scans que mostram um pouco do "behind the scenes" do que produzimos. Este post será um apanhado geral do nosso material visual extra (e contém algumas imagens já postadas antes). Infelizmente, o destaque ficou quase que inteiramente para o começo e o final do projeto. O meio ficou praticamente de lado por dois motivos: continuamos emulando basicamente a fórmula inicial, e Alex, o desenhista no período, estava morando em outra cidade, o que dificultou o acompanhamento direto de seu trabalho e consequente documentação em off.

Enfim, vamos lá, servirei de guia (clique nas imagens para ampliá-las):

-Nascimento-


Foi aqui que nasceu a revista, praticamente; onde todas as histórias foram escritas. Perceba o copo de tereré no canto inferior direito; algo imprescindível em todo o processo.


Estas folhas foram feitas logo após a delineação das histórias; são os pontos de interconexão, sempre ao alcance para não correr o risco de esquecer algum.


Afixados na parede (e janela). Infelizmente, tive que retirá-los pouco tempo depois, para preservar a obra, porque vários leitores que frequentavam minha casa não conseguiam segurar a curiosidade e corriam para ler as anotações. Porra, assim as coisas perdem a graça.


Abaixo, sobre a mesa, outra folha com anotações que me ajudaram muito: a linha cronológica das histórias. No papel amarelo pequeno, grampeado, tem até mesmo a hora e o minuto de algumas ações de certos personagens em certas histórias.


Depois, com tudo planejado, na casa do Mauro, esse seria o primeiro esboço (já arte-finalizado) para a primeira história: Alberto, Santiago e Luis. Mas acabamos usando outro desenho.


Esboço para capa da primeira edição.


Esboço arte-finalizado para capa da primeira edição. Também acabamos usando outro desenho.


Aqui vemos um pedaço da mesa de desenho do Mauro. Pode-se facilmente perceber que a arte foi embalada por muitos tragos de cigarro. O que não se pode perceber é a outra metade do combustível: cerveja (média de cinco latinhas por desenho).


-Primeira edição-

Depois de diagramada e impressa, xerocamos 300 cópias do primeiro número (que já esgotaram há um bom tempo). O trabalho duro estava para começar.


As folhas prontas para serem manuseadas.


Depois de ordenadas corretamente e dobradas.


Grampeando.


Dobrando os grampos (não consegui achar a desgraça do grampeador comprido, e acabei me acostumando a fazer dessa forma. No fim das contas, até achei melhor assim, embora fosse mais trabalhoso).


Grampeadas.


Pronta para ser embalada.


A primeira de muitas...


... ou as primeiras de muitas.


Depois de prontas as edições, precisávamos de um expositor BEM econômico. Assim, chegamos ao primeiro modelo da nossa caixinha.


Ela pronta.


A versão final e melhorada.


-Materiais-

Depois de penar bastante com xerox e impressões mal-feitas por terceiros, uma pancada de desventuras com impressoras, tintas e toners, finalmente consegui montar em casa um pequeno estúdio, que atendesse a demanda das revistas. Ficou muito melhor, porque além de produzir quanto quisesse, na hora que quisesse, consegui maior controle sobre o resultado final (de fato, gastei muita tinta imprimindo testes). Na época da quinta edição, já tinha adquirido tudo, mas pra variar, tive novos problemas. Só a partir da sexta edição é que todo esse material entrou em pleno uso.


A grande garota. A impressora que me poupou tanta dor de cabeça, com um adorável bulk ink acoplado (que foi o que de fato motivou-me a comprá-la, pois diminuiria os custos de impressão de uma forma muito favorável).


Cartuchos e tintas para recarga. O motivo de eu ter as mãos pintadas em certas épocas. Ossos do ofício.


Seladora, guilhotina e plástico. Gostou das revistas alinhadas (a partir da 4ª edição) e sempre embaladinhas, impedindo que você ou qualquer um pudesse molhar ou sujar? Agradeça esses três acima.


Por último, as pequenas ferramentas de manufatura: extrator de grampos, grampeador, grampos, molha-dedo, borracha de base para grampear, agulha para perfurar os sacos fechados e liberar o ar preso e papel.


-Última edição-

Até o fim seguimos o mesmo processo. A seguir você vê a primeira tiragem do último número, pronta para venda:


Aqui...


... e aqui.


-Menções honrosas e aparições-

Tivemos destaque em algumas publicações (e blogs), mas só temos registros de algumas dessas ocasiões. Também montamos bancas de venda em certos eventos, mas desses não temos documentação nenhuma, apenas o material que utilizamos na última. Confira:


Matéria no caderno de cultura Folha3, do jornal Folha do Estado.


Na revista RDM...


...e em destaque.


Na falecida revista Espectador...


... e em destaque.


Uma das vezes em que tivemos destaque na coluna Inclusão Literária, de Clóvis Matos, publicada semanalmente no jornal CircuitoMatoGrosso.


Este foi o último evento em que montamos banca.


Nesta vez, Alex Leite foi junto, atendendo ao pedido dos organizadores para levar um desenhista que fizesse caricaturas dos interessados (o que acabou sendo um sucesso). Confira na parte em destaque do panfleto a menção à nossa presença.


Estes foram os cartazes, feitos de última hora, que levamos para exposição.

-Otras cositas más-


Esta foi a comanda que usei para controlar os produtos nos pontos de venda. A cada nova edição, imprimia uma nova e atualizava-a. Foi uma mão na roda.


Este foi o lugar em que tudo começou, o mencionado (no post anterior) estabelecimento de Mauro Thompson (que está contratando decorador urgente!).


O orgulho do papai: a coleção completa, pendurada na parede.


Por fim, alguns desenhos SD de personagens da revista, por Alex Leite. No próximo post colocarei-os em destaque.

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Encerro por aqui este extenso post de making of. Mas não acabou: além dos desenhos citados, disponibilizarei ainda uma ou outra coisa, como caricaturas de nós, os criadores (porque nunca ficamos bem na foto) e uma ou outra enquete para você opinar sobre o projeto.

Aguarde!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A história por trás das histórias

Este texto foi publicado no final da edição 10, a título de curiosidade. É um apanhado que fiz sobre todo o processo de criação da revista, e um pouco além disso. É meio grande pro que se costuma ver por aqui, mas pra quem acompanha o projeto, tem interesse ou vontade de fazer algo semelhante, vale a pena. Segue ele, na íntegra:

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Considerações finais ou

A franca história de tudo isso ou

Zé, desce mais uma ou

A história por trás das histórias


Entre uma batida natural e um açaí na tigela, entre buzinadas de motoristas abusados e desaforos de pedestres mal-criados na rua em frente, entre clientes pechincheiros, carros de som, mendigos pedantes expulsos a grito, telefonemas inesperados e resmungos de toda sorte: foi no meio de tudo isso que nasceu a Contos Extraordinários.

O referido lugar é o estabelecimento comercial de Mauro Thompson (que, ao contrário do que minhas descrições parecem denotar, é um lugar bastante agradável), no centro da cidade de Cuiabá. É onde gastamos saliva por anos a fio discutindo uma infinita quantidade de coisas; a maior parte delas os produtos culturais que tanto nos faziam (e fazem) a cabeça: filmes, seriados, games, quadrinhos e literatura.

Entre um e outro argumento sempre sobrava espaço para conjecturas; estávamos de tempos em tempos criando e idealizando vários projetos, tanto individualmente quanto em conjunto. Eu sempre escrevera e Mauro sempre desenhara, e como gostávamos de criar, não apenas reproduzir, era um caminho óbvio. Alguns até mesmo chegaram a começar (como algumas pretensas HQs), mas nunca saíram realmente do papel.

Depois de algumas experiências na faculdade de jornalismo (que cursava na época, início de 2008), estava pensando seriamente em publicar alguma coisa de minha autoria. Compartilhei com Mauro a idéia e logo estávamos visualizando algo muito maior: uma editora alternativa. Descontentes com o pouco espaço e a quase inexistente publicação local (impressa) de material alternativo, e sabendo que esse tipo de coisa era produzida (como nós mesmos podíamos provar), a idéia era que começássemos fazendo alguma coisa nossa, testando o mercado, e depois evoluir (se desse resultado), lançando material de terceiros. Nisso entraria tudo: quadrinhos, poesia e prosa (literatura em geral), jornalismo (principalmente gonzo e investigativo), ilustrações, críticas, ensaios, charges, etc.

Então decidimos: começaríamos com uma revista, um magazine, que abarcaria tudo aquilo que gostaríamos de publicar ou ver publicado, servindo de vitrine para tudo que viria no futuro. Criamos pautas, esboços de roteiros e diagramação, idéias para capas, entre outras coisas. Mas, novamente, nunca saiu do papel.

Nessa época chegamos a idealizar o formato, mas não fomos muito longe. Precisaríamos de dinheiro, gráfica, distribuição, propaganda. E isso visando o público diminuto de um país que não tem o costume de ler, numa cidade com menos costume ainda. Nos tocamos de que não seria fácil.

Passei uns dois meses amargurando a idéia. Lentamente, ela começou a desfalecer; a editora ficou para trás, e uma pequena seção do que seria nossa revista começou a tomar conta de minha mente de maneira febril: os contos. Por que não lançar uma revista de contos? Parecia uma boa idéia. Poderia ser algo com periodicidade definida, com vários contos independentes... Mas baseados em quê?

A resposta veio em seguida: interligações. Cada história teria pontos de interligação. Dividiria-as em duas partes, ou “cenas”, que se completariam, como começo e fim (ou fim e começo), duas versões sobre o mesmo acontecimento, dois núcleos de personagens narrando a mesma história ou histórias compartilhadas, etc. Não importava muito o assunto, o importante era seguir essa linha de raciocínio: seria a característica principal.

Tive a idéia geral do primeiro conto e o dividi em pequenos tópicos. Com a mente a mil, fui até a loja do Mauro e começamos a trocar idéias. Ele ficou claramente empolgado, e ali mesmo começamos a jogar conceitos que se tornariam a espinha da segunda e terceira histórias. Mas antes de prosseguir, tínhamos que passar novamente pelo formato, estudando formas viáveis de publicar.

Citei vários exemplos de publicações daqui e de fora. E ficamos pasmos ao perceber que TUDO (pelo menos o que vimos) fora publicado com incentivo privado ou público (este a estarrecedora maioria). Não havia nada local nesses moldes que aparentemente se sustentasse de suas próprias vendas ou publicidade. Não queríamos aquilo: ser mais um na fila esperando dinheiro de alguém ou algo para só assim começar a publicar (não querendo com isso desmerecer os que assim fizeram - ainda podemos trilhar o mesmo caminho algum dia). Em parte para não ter amarras de qualquer tipo, não tendo que responder a ninguém, e em parte para provar que conseguiríamos fazer sozinhos.

Seria infinitamente mais fácil usar as ferramentas da Internet, como muitos já fazem, mas, saudosistas que somos, queríamos o impresso, o tradicional, o desafio do consumidor cara a cara com o produto (não obstante, sempre tivemos consciência do poderio de uma ferramenta virtual, tanto que o blog acabou sendo criado antes mesmo do lançamento da revista).

Então Mauro lançou a grande cartada: “não precisamos de muita coisa. Podemos nos basear nos pulps, que eram feitos com o material mais barato possível”. Sim, era verdade. Nunca faria frente a um livro convencional, mas esse não era o objetivo. Fizemos as contas e logo vimos que poderia dar certo: papel A4 normal e xerox. A capa teria que ser impressa e colorida (o que acabaria sendo a parte mais cara), para chamar a atenção, ou realmente não venderia nada (no fim, conseguimos achar alguém que fez por um preço bem menor que o de mercado). Felizmente, tínhamos o pouco dinheiro necessário para começar.

Depois de tudo isso, teríamos que manufaturar as revistas (separar, dobrar e grampear) e ainda selá-las em plásticos protetores, já que sabíamos que não seriam lá muito resistentes. O invólucro simples justificaria um preço baixo (considerando-se que não seria produzida em larga escala, tornando os custos bem maiores). E estaria então pronta para ser vendida. Mas o grande problema se avizinhava: vender onde?

Esquadrinhamos as bancas e livrarias num pedaço de papel, e começamos a escolher. Alguns conhecidos (e o próprio Mauro) tinham estabelecimentos que poderiam servir também (por mais que não tivessem nada a ver com esse tipo de produto). O plano torto estava traçado; agora faltava meter a mão na massa.

No mesmo dia, à noite, iria à casa do Mauro para terminar de conceituar as primeiras edições: queria ter em mente pelo menos dez delas. Lá fizemos a mesma brincadeira de jogar conceitos e adicionar detalhes. Criamos o suficiente para nove edições e, não sei em que altura, a idéia de interligação já tinha evoluído para interligar também todas as histórias, culminando com algum tipo de clímax na décima (que se tornaria eventualmente a última) edição.

Em casa, pacientemente diluí os conceitos em tramas mais ou menos delineadas, criei os personagens e espalhei várias pontas soltas. Ao fim das nove primeiras, voltei atrás, adicionando mais aberturas e começando a costurá-las. No fim, esses detalhes acabaram tomando forma meio que independentemente e transformaram-se na última história. Tudo estava anotado e organizado, com direito a uma minuciosa linha temporal, do início ao fim (embora tenha fugido dessas propostas iniciais várias vezes) quando sentei para escrever a primeira história; isso acabou sendo uma mão na roda, como percebi depois.

Desde os primeiros desenhos, passando pela diagramação e manufatura, até a distribuição, tudo foi feito sem o mínimo conhecimento de causa. As negociações estabelecidas com os primeiros pontos de venda foram na maioria satisfatórias (algumas terminaram de forma desagradável). O blog para acompanhamento do projeto já estava criado e abastecido, mesmo que minimamente. Pronto. Estávamos (capengamente) no mercado.

A intenção inicial de publicação semanal (e depois quinzenal) revelou-se impossível na prática. Eu já me dedicava de corpo e alma ao projeto na época; tornou-se de vez meu trabalho. E nem assim conseguia me adequar ao ritmo pretendido. Mauro, por sua vez, tinha inúmeras obrigações com a loja, entre outras coisas. O lançamento da segunda edição demorou tanto por causa dos desenhos que acabei tendo que apelar para outro companheiro: Alex Leite.

Sua dedicação desde o início foi admirável; para se ter idéia, todos os desenhos de sua edição de estréia foram realizados em um único dia (devido à minha pressa), durante suas férias na cidade. E seu nome nem sequer constou na capa (que já estava pronta há algum tempo, o que foi muito injusto; mas corrigido na segunda tiragem da revista). Da terceira à nona edição, tudo foi realizado via Internet, pois ele residia em Campo Grande nesse período, a 700 quilômetros de distância.

Mais ou menos na mesma época, outro grande amigo adentraria o time, numa coincidente conversa franca e crítica a respeito da primeira edição: Alvaro Souza, outro aspirante a escritor e um craque de gramática, cujos apontamentos e correções aos meus escritos acabaram elevando incomparavelmente a qualidade da publicação.

Infelizmente, a partir do terceiro número, Mauro, o co-idealizador do projeto teve que desistir do posto de desenhista, devido à sua extenuante carga de trabalho. Mas as revistas continuaram, evoluindo sempre que necessário (por exemplo, a partir desse número todas foram impressas, e não xerocadas).

Eu cuidava da manufatura das revistas e da distribuição. Com esse revés, acabei encarregado também da diagramação e da construção da capa, além do texto.

Com os dois novos parceiros continuei a escrever e publicar. Vale apontar que desde a entrada de ambos, tentei manter as coisas da forma mais profissional possível, revertendo-lhes parte do lucro e material (que sempre somou uma quantia ínfima, muito inferior ao que mereciam). Felizmente, eles abraçaram o projeto com tanto empenho e dedicação, que acabaram fazendo mais pela pura e simples paixão de contar estas histórias do que visando qualquer ganho.

Seguimos em frente, confiantes, embora sempre com atrasos no cronograma. Algum destaque em jornais, blogs e revistas nos deram certa visibilidade. Montando banca em alguns eventos, constatei pessoalmente que muitos estranhos se interessavam. Com o tempo, percebi que a revista tinha finalmente se libertado do círculo de conhecidos que rodeava todos os envolvidos em sua produção; e foi provavelmente isso que me deixou mais orgulhoso. Porque, como idealizara (criar um produto alternativo para o público local), as pretensões iniciais estavam sendo correspondidas. E o melhor: as pessoas pareciam gostar do que liam/viam.

Consegui, lá pelos idos da quinta edição, terminar de trazer toda a produção para dentro de casa (algo que vinha almejando muito há um bom tempo), munindo-me finalmente de todo o material necessário para publicar sozinho a revista, com boa qualidade. A partir daí as coisas ficaram mais fáceis, já que finalmente tinha o know-how necessário. Olhando para trás, vejo quantos erros poderiam ter sido facilmente evitados se tivesse então a experiência que tenho hoje (mas errando é, infelizmente, o único jeito de aprender). Incluo aí principalmente o stress na produção da terceira, quarta e quinta edição, numa reviravolta desumana (e financeiramente suicida) em cima de impressoras e tintas, que quase me fizeram desistir de tudo.

Enquanto isso, eu e Mauro continuamos mantendo contato e discutindo sobre a revista. Felizmente ele conseguiu arranjar algum tempo para voltar a ilustrá-la, fazendo a capa e um desenho interno da nona edição, e a capa do último número.

Vale lembrar também do suplemento que acompanhou os números 4 e 6, as Contos Extraordinários Bolso, resquícios daquela vontade editorial de publicar material de terceiros, que foram, inclusive, muito bem recebidas.

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A última edição é finalmente lançada, praticamente oito meses depois da primeira; fica claro o atraso que decorreu de nossas previsões semanais ou quinzenais de lançamento. Mas, independente dos percalços, finalizamos o projeto com dez edições, como prometido no início. Não consigo descrever em palavras o orgulho de ver o projeto encerrado da forma que foi concebido.

Espero que mais iniciativas como essa surjam com o tempo, oferecendo algo de diferente e inovador ao público; e falo isso como leitor, não como autor. Que todos que anseiam por fazer algo semelhante (e podem) saiam de suas tocas e o façam, bradem ao mundo suas histórias e devaneios. A Contos Extraordinários é uma prova cabal de que sim, isso pode ser feito.

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Por último, costumo dizer que estas histórias são uma grande homenagem a alguns clichês de vários gêneros cinematográficos, que sempre me encantaram muito, não importa quantas vezes revisitados.

Fica aqui a dedicatória a todos aqueles que inspiraram, criaram e participaram destas obras.


Ricardo Santos - fevereiro de 2009


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Em breve: making of e outros extras

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Capa da 10ª edição - Já à venda!!!

É, depois de novos atrasos e muita correria (motivo pelo qual não fiz este post antes), lançamos a última edição. Aqui vai a capa para apreciação (clique na imagem para ampliá-la):



Dessa vez não teremos os dizeres da contra-capa porque... Bem, eles não estão lá! Neste último número usamos esse espaço para fazer um painel com todas as nove capas anteriores, e apenas isso.

O que posso adiantar é que esta edição ficou especialíssima, com 44 págs. (a média vinha sendo 16!), um desfecho pra lá de surpreendente, muitos desenhos e um grande texto de encerramento! E o melhor: com o MESMO preço camarada de sempre: R$3,00!

Falando em desenhos, aqui vai um aperitivo do trabalho de Alex Leite (que fez toda a arte interna desta edição; Mauro Thompson ficou com a capa):



E aí, interessou? Tá esperando o que pra completar (ou começar) sua coleção?

Saiba onde comprar as revistas clicando AQUI.

Muito em breve começarei a disponibilizar vários extras, então continue ligado(a)!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Reta final

Depois de algum tempo de férias, voltamos à ativa!

A última edição está no forno, e a previsão de lançamento é 20 de janeiro.

Continue antenado(a)!

EDIT em 14/01: infelizmente, devido a alguns atrasos habituais e um período em que estarei ausente da cidade, o lançamento da última edição fica postergado para o início de fevereiro. Em todo caso, o material está ficando absurdo (minha opinião parcial, não leve muito em conta). Aguarde!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Edição 09 à venda!

Lembre-se: a revista está à venda nas Livrarias Adeptus dos shoppings Goiabeiras e 3 Américas e na Livraria Janina do Shopping Pantanal. Você também as encontra em algumas bancas da cidade e outros pontos diversos. Confira todos eles clicando AQUI.

Para aqueles que não moram em Cuiabá-MT, é fácil: mande um e-mail para contosextraordinarios@gmail.com solicitando sua edições!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Capa da 9ª edição!


(clique na imagem para ampliá-la)

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Notou alguma diferença nesse desenho? Percebeu um terceiro nome na parte de baixo da capa? Poisé, Mauro Thompson, que desenhou a edição 1 e metade da 2, e as respectivas capas, volta à ativa. Fora isso, Alex Leite vem dilapidando as histórias com cada vez mais desenhos, e cada vez melhores. Enfim, esta edição está duca!

Estamos chegando ao fim... Você que vive falando que não tem dinheiro para comprar as revistas, guarde um pedaço desse 13º! Apenas mais uma edição e finalizamos. Se tem gostado dos contos, acompanhe até o fim, muitas surpresas estão a caminho. E, por que não, compre a coleção de presente para alguém que você acha que se interessará. Afinal, é natal! Muito em breve a nova edição estará à venda, continue antenado(a).







Seguem os excertos da contra-capa da 9ª edição:

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"Aqui, sorte não costuma te manter vivo por muito tempo. O que te compra as chances de sonhar em atingir a diminuta expectativa de vida deste emprego, é a sensibilidade de notar quando algo está pra acontecer, a esperteza de nunca ficar no lugar errado na hora errada, e o respeito que você conquista se não demonstrar medo e for seguro de si.
Às vezes, nem isso basta."

A rotina do Presídio de Segurança
Máxima Carrara está prestes a
mudar. Acompanhe Alan, um dos
guardas, num tour revelador por um
dos lugares mais perigosos do
mundo.

sábado, 29 de novembro de 2008

Palhinha do 8º conto

Faz um bom tempo que isso não acontece... Mas nada como a própria história para mostrar do que se trata o conto. Aqui vai um trecho do começo da 8ª edição.

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Balas Perdidas
Fumaça, jipes e torniquetes

CENA 1


Suas asas, seu porte, a angulação perfeita de seu corpo esguio, numa subida graciosa, escalando os degraus de ventos tão abundantes e frescos àquela altura, rumando para as nuvens, para o branco leve - interrompida pela bala torpe e improvável, atravessando seu peito e costas, desviando-lhe do vôo meticulosamente planejado. Seu gracejo se acaba num segundo, seu corpo contorce-se numa queda livre e desastrada, suas penas brancas dançando confusamente ao léu, até que atinge o teto da casa, no centro do caos humano, brutal e mortífero. O baque no cimento perde-se em meio a gritos e tiros e passa despercebido para os homens logo abaixo.

- Puta merda! PUTA MERDA! FUDEU!

- Cala a boca, Solano, PORRA! - grita o sargento Lopez.

São cinco deles. Três soldados rasos, Solano, Jordão e Barreto, um cabo, Silva, e o sargento Lopez. Tudo dera errado, incrivelmente errado.

- Merda! Eu vou matar aquele filho da puta! Nos mandar pra cá, pra morte certa! - continua Lopez, dizendo em outras palavras o que o soldado que mandara calar a boca acabara de falar.

Estavam no meio de uma situação delicada: os valentes soldados de um país longínquo tentando impor a paz por meio da violência, num território pobre e desolado. A guerra civil era uma realidade; as dezenas de clãs locais tentavam tomar o poder que um governo em ruínas não exercia, e no meio do caminho inocentes eram trucidados, pela violência ou pela fome. Ali, na capital, qualquer fagulha tornava-se uma labareda contundente, que deitava facilmente dezenas de vítimas no chão banhado de sangue, a maioria delas inocentes sem ter para onde correr. O exército chegara há meses, e sufocava lentamente enquanto os soldados tombavam sem conseguir livrar a cidade de seus “elementos nocivos”.

- Até agora não sabemos se eles realmente nos mandaram pra cá, sarja - disse Silva.

Estavam refugiados num cubículo de cimento que, a notar pelos colchões e trapos sujos espalhados pelo chão, alguns há pouco chamavam de lar. Uma porta de madeira estropiada e uma janela selada com tábuas eram o que completava a decoração primitiva do quadrado de concreto. Há quinze segundos entraram ali. Não tiveram que esperar muito por companhia.

A porta, à direita dos homens, despedaçou-se de vez com o impacto de novas balas, os pedaços entrecortados de madeira voando e espatifando-se na parede do outro lado. Os cinco, agachados rentes a uma das paredes, com os rifles em punho, apenas esperavam o momento certo.

- Cala a boca, Silva. Aí vem eles - resmungou o sargento.

Os insurgentes não tinham uniformes, proteção ou treinamento adequado; usavam roupas comuns e ficavam muito mais à vontade com enxadas ou martelos do que com armas. Que, a propósito, eram em grande parte velharias, financiadas com as mixarias adquiridas nas pilhagens locais, compradas em remessas de grande quantidade; sobras de outras guerras negociadas por valores baixos. De fato, quantidade era a única vantagem dos clãs locais. Mas não de armas, e sim de homens, de mártires, de suicidas.

O primeiro deles entrou pulando, mas virado para o lado errado; foi jogado para frente no ar e caiu de boca no chão, com mais de vinte balas cravejadas em toda a extensão traseira de seu corpo. Os homens seguintes entraram mirando o lado certo, embora atirassem a esmo. O ambiente foi inundado por uma sinfonia sangrenta e frenética, de dentes cerrados e olhos incandescentes. Caíram conforme entraram, uns sobre os outros, numa carnificina incontrolável. A música só cessou quando o último da fila caiu, metade de seu corpo além da soleira da porta. Os cinco soldados olharam para os lados, checando os companheiros, mal acreditando na pilha de mais de vinte cadáveres amontoados na sua frente.

- CARALHO! Tá todo mundo bem? - perguntou Barreto, o mais próximo da parede rente à porta, e, portanto, o mais protegido - Tô ileso.

- Dois tiros na perna - disse Jordão ao seu lado, segurando o rifle apontado para a porta com uma mão e a perna ferida com a outra.

- Tô tranqüilo - falou Solano, na outra ponta da parede.

- Os desgraçados acertaram meu braço esquer-- Argh! - resmungou o sargento Lopez, puxando o tecido da camisa camuflada pelo buraco feito pela bala, cutucando sem querer o ferimento - Barreto, você e Solano empilhem esses corpos na porta, para cobertura. Com ela aberta somos presa fácil. Vão!

Enquanto os dois, ainda agachados, aproximavam-se dos cadáveres inimigos, começando a empilhá-los, Jordão cutucou Silva, ao seu lado esquerdo. O cabo não se mexeu. Cutucou-o de novo, mais forte, e dessa vez o colega tombou para o lado, inerte.

- Silva?

O tiroteio recomeçou. Assim que os insurgentes viram os soldados tentando empilhar os corpos, barrando a entrada da casa, voltaram a atirar em peso, embora não se aproximassem muito. Barreto e Solano continuaram, apenas tomando mais cuidado, imaginando a infinidade de gente lá fora querendo arrancar-lhes o couro. Cada um pegava numa ponta do corpo, bem rente à parede para que não se tornassem alvos fáceis, e levantavam-no, jogando-o em cima dos outros.

- Vamos, lá, Barreto, vamos fechar essa bosta! - já haviam tampado mais da metade da altura necessária quando uma bala, vinda na diagonal, acertou em cheio a mão esquerda de Solano. Quatro dedos voaram para o chão, encharcados de sangue. Apenas o dedão ficou no lugar. Ele pulou para trás, segurando o pulso da mão ferida com a boa - MEU DEUS! MINHA MÃO!

- Ah, merda! - disse Lopez - Barreto, não vai ter jeito de fazer essa barricada se esses putos não pararem de atirar! Joga uma granada!

- Mas, sargento, e se tiverem inocentes perto? Não devíamos usar elas só em caso de extrema urg--

- Seu bosta! O que cê acha que é isso? Joga, infeliz!

Barreto pegou uma das granadas presas na cintura, soltou o pino e jogou-a por cima dos cadáveres. Os tiros cessaram e eles ouviram os gritos desesperados, na língua local, e, em seguida a explosão.

- Agora vamos acabar com isso - retomou Lopez, soltando o rifle no chão, apoiando-se no braço bom para levantar e pegando o corpo mais próximo - Vamos, Barreto! Tá esperando o quê? Um convite? Ajuda aqui, porra.

Barreto, que continuava agachado ao lado da porta, ajudou o sargento a levantar o corpo. Mesmo com Lopez podendo utilizar uma só mão, eles logo acabaram a barricada, selando a entrada. O calor, que já era excessivo, aumentou mais ainda. Também ficou escuro, mas a luz que entrava pelas frestas das tábuas na janela era o suficiente para iluminar o ambiente. Barreto, agora o único sem ferimentos, começou a arrumar o resto dos cadáveres atrás da pilha, de forma a fortalecê-la. Lopez voltou para a parede e sentou-se ao lado de Silva e Jordão; este desviara sua atenção para Solano, que ainda esperneava do outro lado da pequena casa. O sargento pegou o rifle e pousou-o sobre o colo. Então colocou um dedo na parte superior do pescoço de Silva. Depois, aproximou a orelha de seu nariz. Não sentiu nada.

- O Silva morreu - disse, pesaroso.

- Solano, engole esse choro, homem! Vem aqui, vou fazer um torniquete no teu pulso pra estancar o sangramento - gritou Jordão após as palavras de Lopez, amortecendo seu severo impacto.

Solano levantou-se e em dois passos chegou ao lado do colega, que arrancou um pedaço da camiseta que usava por baixo do uniforme e começou a amarrar em volta de seu pulso.

- Meu Deus... - disse Solano, fazendo careta - Olha a minha mão... Que estrago - Então olhou para o corpo de Silva, para o braço ferido do sargento e para a perna alvejada de Jordão - Não tô querendo ser pessimista, pessoal, mas acho que tamos mortos...

- Cala a boca, Jordão. A gente só tá morto quando tá morto - respondeu Lopez.

Barreto mal terminou de arrumar os corpos, os tiros recomeçaram, agora descompassadamente, acertando toda a extensão da casa.

- Meu Deus - disse ele - por que mandaram a gente pra cá? Estamos no meio do inferno... O rádio pifou de vez? - perguntou, olhando para o sargento, que puxou o aparelho preso na cintura de Silva. Fora alvejado e estava quebrado. Lopez apertou o botão para ver se obtinha alguma resposta, mas a caixinha preta em sua mão não emitiu nenhum som, nada.

- Merda ! - gritou quando jogou o rádio na parede, quebrando-o de vez - GRANDE PEDAÇO DE MERDA DO CARALHO, PORRA!

- Eu não descreveria melhor, senhor - disse Jordão com um meio sorriso na boca.

- E eu não continuaria rindo por muito tempo, Jordão - disse Solano, olhando a janela logo acima deles. Estavam encostados na parede, sob ela - Temos sorte que esses filhos da puta são burros... Essas madeiras não guentariam nem dois segundos se--

Uma rajada de tiros acertou as tábuas, deixando três buracos alinhados. Lopez alcançou Solano pelo pescoço, esbugalhou os olhos e disse, raivosamente:

- Solano, seu maldito desgraçado, ou você cala essa boca imunda ou eu mesmo arranco fora os outros dedos que sobraram, me ouviu? - então o soltou, empurrou-se para trás forçando as pernas no chão, até encostar as costas na parede, levantou o joelho direito e apoiou o rifle ali em cima, mirando a janela - Barreto, recolhe essas armas que tão pelo chão e deixa aqui ao alcance da nossa mão; daqui a pouco acaba a munição. E fica ali, ó, como eu - disse, apontando a parede à sua frente, do outro lado - Nenhum desses filhos da puta vai brincar com a gente. Apareceu, toma chumbo

Barreto rapidamente recolheu o que tinha e jogou-as no chão, distribuindo ao alcance de todos. Jordão terminou o torniquete no pulso de Solano e pegou o rifle e a munição de Silva.

- Certo. Vocês dois cuidam da porta. Essa barricada não vai durar pra sempre - ordenou o sargento.

- Meu Deus - disse Jordão, olhando sua coxa e ignorando as palavras do superior - acho que me acertaram de jeito.

Barreto olhou mais atentamente a perna direita de Jordão, forçando os olhos para enxergar melhor à meia-luz. Só então viu a enorme poça de sangue que a circundava.

- Puta merda! - exclamou ele - Quer que eu dê uma olhada?

- Pra quê, Barreto? Você não entende porra nenhuma disso. Deve ter acertado uma artéria... Olha, o único jeito de eu, e provavelmente vocês, sobrevivermos a essa merda é se vierem nos resgatar rápido, o que acho improvável. Que que cê acha, sarja?

- Todo mundo aqui sabe como funciona, Jordão. Ninguém fica pra trás. Eles virão, cedo ou tarde. Mas virão - concluiu Lopez.

As palavras do sargento foram as últimas ditas em uma pausa de longos minutos. Eles sabiam daquilo. Viriam resgatá-los, de alguma forma. Mas conseguiriam chegar a tempo? Por instantes aquilo ocupou-lhes a mente, num sofrimento latente de imaginar tudo o que poderiam fazer, se saíssem dali com vida.

Então, sem mais nem menos, a cabeça de Jordão despencou sobre o peito.

- Jordão! - gritou Barreto, desesperado, aproximando-se do colega. Solano, ao seu lado, virou-se assustado e levantou sua cabeça. Os dois analisaram-no e em poucos segundos constataram: estava morto. Perdera muito sangue.

- Merda, MERDA! - exclamou Barreto, voltando para a parede - Silva, agora Solano... Daqui a pouco seremos nó--

- Sem choro, soldado! - interrompeu Lopez - Agora somos só nós três. Nós ou eles lá fora. Quando tudo acabar, você vai ter tempo de chorar a morte dos dois.

Barreto engoliu o pesar. Continuaram quietos por mais um minuto. Foi o quanto Solano conseguiu segurar-se.

- Puta merda - disse ele - Tô impressionado com esses idiotas. Quero dizer, são só táb--

Lopez abaixou a arma e disparou. Uma bala passou zunindo pela cabeça de Solano.

- CARALHO, SARJA! - assustou-se ele.

- Soldado, você tem certeza de que não quer calar a boca? - disse o sargento, agora mirando o rifle no meio de seus olhos.


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